Quando vem daquele adulto que não ama o próprio trabalho fica fácil perceber a furada que é esse conselho. E se ele disser que não fez o que ama porque não teve oportunidades notamos ainda um quê de ressentimento.
Faça o que ama, e assim poucos vão querer limpar o chão público. Faça o que ama, e assim poucos vão recolher o lixo da rua. Faça o que ama e poucos pegarão o turno da noite no supermercado 24 horas.
Digo poucos, mas quase dizendo ninguém.
Fazer o que ama é um ideal daqueles inalcansáveis pra maioria. O sofrimento pessoal é também uma questão social. A dura realidade é que a maioria das pessoas têm que fazer o que não amam na maior parte do seu tempo.
Lidar com isso é a tarefa complicada. Não basta culpabilizar os opressores. É preciso reconhecer a questão social, mas sem deixar de lado a possibilidade de escolha que se tem. Por mais limitadas que forem as escolhas, alguma liberdade existe.
Não adianta focar nas impossibilidades, isso é ressentimento. Não adianta acreditar que tudo é possível, isso é ingenuidade.
Adianta não se apegar às verdades universais. Adianta pensar suas questões. Ou adianta tentar. Adianta também buscar ajuda quando não conseguir fazer isso sozinho.